segunda-feira, 5 de maio de 2008

Saviani - Síntese de Texto

SAVIANI (2003), no texto intitulado “Sobre a Natureza e Especificidade da Educação”, desenvolve a idéia de que a Educação é um fenômeno próprio dos seres humanos, sendo a sua compreensão condicionada à compreensão do homem. O autor sinaliza que o que diferencia o homem dos outros animais é o trabalho, e que a Educação, além de ser uma pré-condição para o processo laboral, é ela própria uma forma de trabalho.
O primeiro argumento utilizado pelo autor para sustentar a idéia geral é de que o homem, na produção de bens materiais, necessita antecipar mentalmente os objetivos da ação. Dessa forma, sua representação mental dos objetivos inclui o conhecimento das propriedades do mundo real (ciência), de valorização (ética) e de simbolização (arte). O autor aponta que estes aspectos “na medida em que são objetos de preocupação explícita e direta, abrem a perspectiva de uma outra categoria de produção que pode ser traduzida pela rubrica ‘trabalho não-material’. (...) trata-se da produção do saber” (p. 12). A Educação, nesse sentido, é uma forma de trabalho não-material, na qual a produção e o consumo acontecem simultaneamente.
Um outro argumento utilizado pelo autor é que a natureza humana não é dada a priori, ou seja, o homem produz a sua própria natureza. Nessa perspectiva, a atividade educativa, de uma forma direta e intencional, constrói em cada indivíduo “a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens” (p. 13). Logo, as capacidades humanas não são determinadas biologicamente.
Ao justificar a utilização do termo segunda natureza, Saviani aponta outro argumento. Segundo o autor, consideramos algumas de nossas habilidades como sendo naturais, no entanto, o desenvolvimento das habilidades humanas somente é possível através de um “processo deliberado e sistemático” (p. 20). Assim, Saviani destaca a importância da função educativa da escola, na qual a socialização do saber sistematizado deve ser prioritária em relação a outros saberes.
O autor, ao abordar a natureza e a especificidade da Educação, traz uma discussão relevante sobre o verdadeiro papel da escola, evidenciando a descaracterização desta a favor de objetivos distintos do real propósito da educação institucionalizada, qual seja: transmissão-assimilação do saber sistematizado.
Saviani, por meio de uma linguagem clara, sinaliza a importância de priorizar nos currículos escolares o conhecimento que resistiu ao embates do tempo, conhecimento este denominado por ele de “Clássico”.
O autor traz uma perspectiva crítica e ao mesmo tempo indispensável sobre a questão educacional.


BIBLIOGRAFIA

SAVIANI, Demerval. Sobre a natureza e especificidade da educação. In: __________. Pedagogia histórico-crítica. 8. ed. rev.ampl. Campinas (SP): Autores Associados, 2003. p. 11-22.

domingo, 4 de maio de 2008

Psicologia e Educação

A PSICOLOGIA e a Educação sustentam relações contestáveis. Ao longo dos tempos, a Educação, através de um processo histórico de encobrimento da realidade social e política, vem se servindo do conhecimento científico produzido pela Psicologia. As contribuições desta ciência não são escassas nem insignificantes. Todavia, é inegável que a Psicologia, com sua postura apolítica e sua visão naturalizante de homem, consentiu inúmeros reducionismos no entendimento de fenômenos que emanam do cotidiano educacional.
As relações entre Psicologia e Educação não são recentes. Alguns autores assinalam que a Psicologia já influenciava as práticas educativas antes mesmo de ser instituída como ciência no final do século XIX, ou seja, quando ainda pertencia ao campo da Filosofia. Outros autores, em contrapartida, argumentam que a Educação somente necessitou do conhecimento psicológico a partir do movimento escolanovista, portanto, não se poderia falar de Psicologia na Educação até o início do século XX.
Carvalho (2002), ao discorrer sobre a vinculação histórica entre essas duas áreas do conhecimento, defende a tese de que a Psicologia sempre direcionou os processos educativos. Esta autora demarca três momentos distintos de direcionamento da Psicologia, sendo o primeiro deles o período de reflexão filosófica. Segundo Carvalho, as idéias psicológicas elaboradas por filósofos já direcionavam as teorias e práticas educativas.
Por outro lado, Bock (2003) argumenta que a Educação não precisou da Psicologia até o início do século XX. Segundo esta autora, a Escola Tradicional, que vigorava até então, fundamentou suas práticas numa concepção religiosa da natureza humana; logo, a verdade sobre o homem já era revelada, não cabendo aqui qualquer conhecimento psicológico.
A polêmica na história da relação entre Psicologia e Educação não se esgota na história. As indefinições da Psicologia somadas à complexidade intrínseca ao cotidiano escolar trouxeram graves conseqüências. O psicologismo, principal delas, imperou na Educação durante um longo tempo, negando, sobretudo, as dimensões econômicas, sociais e políticas que também compunham o fenômeno educacional.
Os modismos psicológicos típicos da nossa sociedade ocultaram todas as mazelas sociais refletidas na escola. A Educação, ou melhor, os problemas educacionais passaram a ser compreendidos a partir de uma postura individualizante, na qual o aluno, à mercê da imunidade suprema da escola, tornou-se o único responsável pelo seu bom desempenho; desempenho este condicionado ao desenvolvimento "sadio" e "natural" esperado na espécie humana.
Dessa forma, a Psicologia e a Educação assumiram uma postura histórica de vilãs. A Educação, servindo-se do conhecimento apolítico produzido na Psicologia, instituiu a diferença como algo anormal, sustentando-se em práticas segregativas. Com isso, a dessemelhança foi patologizada e recebeu coeficientes indestrutíveis diante da supremacia da escola. Ainda hoje, não são raras as posturas educacionais homogeneizantes. É notória a presença de salas de aula constituídas somente por alunos que possuem o mesmo nível de aprendizagem.
A Educação, por intermédio da Psicologia, passou a ser um mecanismo de reprodução de crenças e valores capitalistas. Cada um é responsável pelo seu “sucesso” ou pelo seu “fracasso”, cabendo a escola somente oferecer as oportunidades necessárias para o pleno desenvolvimento humano. Puro reducionismo!
A Psicologia tradicional, com suas teorias e falhas metodológicas, negou a contradição como movimento originário do real. As dicotomias se evidenciaram na evolução histórica do conhecimento psicológico, porém, nunca foram superadas. O modo metafísico de compreender a realidade, defendido pela Psicologia, fundamentou, e ainda fundamenta, as práticas educativas, impondo soluções paliativas para os problemas apresentados na escola.
A psicometria, a postura clínico-terapêutica de muitos psicólogos escolares, a formação tecnicista a qual este profissional é submetido são alguns dos meios de propagação dos reducionismos psicológicos no campo da Educação. O Psicólogo passou a ser um executor de testes, inventários e técnicas psicológicas muitas vezes elaboradas numa realidade inteiramente distinta.
Assim , cabe à Psicologia rever seus pressupostos teóricos, através de uma análise crítica, buscando um reposicionamento no campo da Educação ao lado de outras ciências que também fundamentam a compreensão do fenômeno educacional. A Psicologia é uma peça fundamental na Educação, porém, não é a única!

BIBLIOGRAFIA

Referida:

BOCK, Ana M. B. Psicologia da Educação: cumplicidade ideológica. In: MEIRA, Marisa E. M.; ANTUNES, Mitsuko A. M. (Orgs.). Psicologia escolar: teorias e críticas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003, p. 79-103.

CARVALHO, M. Vilani C. de. Breve incursão pela história das relações entre Psicologia e Educação. In: FERRO, M. A. B. (Org.). Educação: saberes e práticas. Teresina: EDUFPI, 2002, p. 41-52.

Consultada:

BOCK, Ana M. B.; GONÇALVES, M. Graça M.; FURTADO, Odair (Orgs.). Psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em psicologia. São Paulo: Cortez, 2002.

GATTI, Bernardete A. Possibilidades de enfoque no campo da Psicologia da Educação – 2000. Revista de Psicologia da Educação, São Paulo: EDUC, n. 09, p. 09-14, 1999.

GATTI, Bernardete A. Tendências da Pesquisa em Psicologia da Educação e suas contribuições para o ensino. In: TIBALLI, Elianda F. A.; CHAVES, S. M. Concepções e práticas em formação de professores: diferentes olhares. Rio de Janeiro: DP&A, p. 105-116, 2003.

LAROCCA, Priscila. Psicologia na Formação Docente. Campinas, SP: Alínea, 1999. Cap.1.

SEVERINO, Antonio J. Educação e subjetividade: a hora e a vez da Psicologia da Educação. In: SEVERINO, Antonio J. Filosofia da Educação: construindo a cidadania. São Paulo: FDT, 1994, p. 128-135.